sexta-feira, 29 de março de 2024

Avisos




Ter o famoso 28, elétrico da Carris, só para nós, a meio de uma tarde de sexta feira santa, com a cidade invadida por turistas espanhóis, não é para qualquer um! Há que conhecer os cantos à casa ou, se preferirem, as rotas dos carros elétricos.

Em vez de embarcar nos “Prazeres”, onde termina habitualmente, cruzarem-lhe a porta no largo da Estrela, onde alguns invertem a marcha. E não esperar por ele na “ilha”, bem visível entre a basílica e o jardim, ambos da Estrela, mas mais de lado, no pequeno jardim onde a inversão é feita.

A viagem não foi de turismo mas sim para me deslocar a um ponto específico da cidade, mas foi divertido ir vendo os olhares dos turistas na rua, trocando sorrisos e acenos com os que, a bordo, iam espreitando pelas janelas nas ruas e vielas por onde seguíamos.

Felizmente nenhum deles conhece bem a cidade, ou haveriam de soltar valentes gargalhadas ao verem o cartaz de “Cuidado com os carteiristas” ao descermos a calçada da Estrela e passarmos mesmo ao lado da Assembleia da República. Faz sentido, o aviso.

Mas fará bem mais sentido se colocarem cartazes de 3 por 10 metros ali por perto, nas diversas ruas que ladeiam aquele edifício.

Pentax K1 mkII, Pentax-M 35mm 1:2

By me

terça-feira, 26 de março de 2024

Potências




Creio que quase todos os que se interessam sobre o fazer fotografia se interessaram também por objectivas potentes.

O conceito de potente será coisa variável. Variável em função das tecnicas de construção de objectivas, variável em função das opções de cada fotógrafo. Eu não sou diferente.

Esta é uma Tokina AT-X AF 400mm 1:5,6, comprada algures em meados dos anos 90.

A minha intenção ao compra-la não foi tanto o ir buscar lá longe um detalhe, ainda que a tenha usado para isso.

A principal utilização foi o “andar à caça” de insectos (abelhas ou borboletas) em parques e jardins públicos na época própria.

Acontece que a distância mínima de foco de origem é de dois metros e meio. Demasiado longe para o que queria fazer.

Assim usei-a para fotografar com aneis de extensão, tal como havia feito com uma outra que tinha e tenho. Com o incómodo (para muitos) de perder a possibilidade de usar o auto-focus. Coisa que não me afecta por demais, já que tenho o hábito de focar manualmente. E com abelhas ou borboletas que não ficam quietas por muito tempo, há usar de estratégias para obter resultados satisfatórios.

No entanto haverá que considerar que a curtas distâncias, ou nem tanto, uma objectiva que tem um ângulo de visão de 6º, imagens pouco estáveis são faceis de acontecer. A minha solução foi, ou é, quando vou assim fotografar usar de um monopé para estabilidade. Bem mais flexivel que um tripé, tanto na colocação como na proximidade ao assunto.

Quanto à qualidade da imagem, nunca me deixou por demais satisfeito. Ou porque não a tem ou porque não soube eu tirar partido daquilo que estava a usar. Ideal mesmo seria fotografar com alguma topo-de-gama desta classe para poder fazer comparações.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

By me

segunda-feira, 25 de março de 2024

PLINK




Tinha comprado a Pentax K100D há umas duas ou três semanas. A minha primeira Reflex Digital.
Saíra de casa para ir tomar um café e, por qualquer motivo, tinha-a pendurada no pescoço e não no ombro como é meu hábito. 
De súbito oiço um “plink” violento vindo do meu ventre. Como nada me doía, olhei para a câmara. Estava o filtro neste estado!
Doeu-me a alma! Coisa nova assim estragada! Depois de pensar um pouco, acabei por perceber o que se passara: uma pedrinha, que seria pequena, saltara de sob a roda de um carro ao passar e acertara mesmo em cheio na objectiva.
Por sorte, tinha e tenho o hábito de usar um filtro de protecção nas objectivas. Se assim não fosse, teria sido a objectiva a sofrer os danos.
Este é um dos argumentos a favor do uso de filtros de protecção: protegerem!
Não apenas de situações como esta, muito raras que são, mas também da água, das poeiras, de pancadas acidentais. E, igualmente importante, de riscos ínfimos que acontecem na sua superfície quando fazemos limpeza. Não damos por eles mas existem e, de algum modo, afectam a qualidade da imagem.
Os detractores do uso de filtros UV argumentam e com razão, que qualquer filtro que se coloque em frente da objectiva, por muito bom que seja, altera sempre a imagem. Tal como cumpre a sua função de filtrar para da luz, no caso os ultra-violetas, alterando a fidelidade da cor resultante.
Assm, há quem argumente com frevor o uso de filtro, tantos quantos, com o mesmo frevor, argumentam contra.
A minha posição, tão válida quanto a oposta, é simples: a menos que não confie no estado de consevação do filtro, uso-o. A excepção é em estúdio, onde tudo acontece com mais calma e onde a probabilidade de acidentes ou sujeira é muito pequena.
Por acréscimo, um alerta que me foi dado por um mecânico fotográfico há uns tempos: 
Dizia-lhe eu que todas as minhas objectivas têm um filtro colocado, mesmo as que estão guardadas. E ele avisou-me que a caixa de ar criada entre ele e o elemento frontal da objectiva pode ser propício à criação de fungos, coisa que evitamos a todo o custo. 
Pensei no que ouvira e, em chegando a casa, tomei cautelas: retirei todos os filtros colocados, mantendo apenas naquelas que tenho a uso. Em querendo usar, é só colocar o respectivo filtro.
Fiquei, assim, com quatro tipos de filtros arquivados: os UV de protecção, os específicos para usar com preto e branco, os de correção ou compensação de cor, hoje pouco usados porque o digital já permite esses ajustes, tanto na tomada de vista como na edição, e os quadrados, de acrílico ou de gelatina, com funções específicas e que raramente uso.
Claro que, para além dos filtro quadrados que são colocados usando um suporte especial, dos outros tenho vários repetidos devido à variedade de diâmetros frontais das diversas objectivas. Em alguns casos, aneis de adaptação permitem usar filtros maiores em objectivas menores, mas isso vai obrigar a mudar de pára-sol. 
Mas uma coisa é certa, e para além das posições radicais que os defensores de uma ou outra abordagem possam ter:
Seja o que for que coloquemos à frente de uma objectiva vai alterar o resultado final. As mais das vezes essas alterações são as desejadas. Por vezes temos surpresas desagradáveis.
A sugestão que posso dar, para satisfazer ambas as partes, é usar um filtro protector e, dependendo do uso que é dado, substituí-lo de quando em vez por um novo, mesmo que não se notem riscou ou outros problemas.
A fotografia uns vinte anos, foi feita com a Pentax K100D e, provavelmente, com a Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5.
Hoje não a poderia fazer porque, apesar de todo o cuidado que fui tendo, o vidro acabou por cair do aro.
By me

sábado, 23 de março de 2024

Extras? Nem pensar!




Aviso: o texto é longo mas o assunto também. Para o abreviar haveria que o fraccionar e abordar várias vezes, coisa que não quero.

Muitos são os que ao adquirir equipamento fotográfico se contentam com o que o vendedor tem disponível. E se há um artigo que nem sempre está disponível é o pára-sol.

Ou porque o fabricante não o inclui na embalagem, vendendo-o como um extra, ou porque se trata de uma objectiva usada e, as mais das vezes, não acompanhada de pára-sol.

Na minha opinião é um dos erros mais comuns, tanto em amadores como mesmo em profissionais.

O pára-sol não é aquele adicional que dá um aspecto de sério a quem o está a usar. Nem é aquele objecto incómodo de usar, porque volumoso no saco ou mala. Nem aquele outro extra que temos que colocar e retirar de cada vez que trocamos de objectiva.

O pára-sol é parte integrante do sistema de captação de imagem, qualquer tipo, que previne ou limita a luz indesejada de incidir no elemento frontal da objectiva. Cujo uso é, tantas vezes, o que faz a diferença entre uma fotografia bem sucedida e uma outra que, tendo o mesmo enquadramento, perspectiva, profundidade de campo e momento decisivo, tem baixo contraste ou mesmo uns raios luminosos que tudo estragam e de que não nos apercebemos no momento em que premimos o disparador.

Tenho vários. Aliás, tenho muitos. E tenho-os porque, sabendo da sua importância, quando encontro usados à venda, trago-os. Alguns sem utilidade no momento. Ou porque não tenho a objectiva para que foi concebido, ou porque nem sequer referem o modelo ou a marca. E tem sido isso que me tem ajudado muitas vezes.

Por outro lado, e regressando à sua utilidade, utilização e acesso, os fabricantes querem vender. E os fotógrafos querem facilidade de uso. Assim, e porque o sistema de rosca frontal dá trabalho a usar para os colocar ou retirar, optaram por sistemas de encaixe rápido. Uma pequena rotação, um click e já está. Acontece que esses sistemas são, em regra, compostos de dois materiais diferentes: metal e plástico. E, com o uso, um deles desgasta-se. Em regra o plástico da pára-sol. Com a perda de fidelidade na segurança da peça.

Uma objectiva que muito usei tem esse sistema. Com o acréscimo, prático na verdade, de permitir guardar o pára-sol invertido na objectiva para arrumação e transporte. De tanto o usar, deixou de fixar com confiança, sendo frequente descair ou mesmo cair. Tive a sorte de encontrar um igual, perdido numa gaveta de uma loja de usados.

Este sistema de encaixe rápido tem uma vantagem adicional. Se se tratar de um pára-sol em formato de pétala ou, não sendo, que seja rectangular, temos a certeza de, ao colocá-lo, não ficar a cortar parte da imagem. Útil, sem dúvida. Mas desgasta-se.

Alguns fabricantes usam ou usaram de outros métodos de fixação, com aperto na estrutura da objectiva. Para garantir o posicionamento exacto, têm uma referência marcada, que deve ser respeitada. Nem sempre é e com consequências menos boas!

Apesar de tudo o acima dito, muitos são os que erradamente que dispensam o uso de pára-sol. O que lhes pode sair caro! Não apenas com imagens “estragadas” como com objectivas partidas ou batidas. Ao longo dos anos já estraguei ou parti alguns pára-sóis. Uma pancada ao passar num local mais apertado e lá está o estrago. Mas nunca parti ou estraguei uma objectiva porque desprotegida.

Claro que tudo isto é sabido por gente com experiência. E que não dispensam o pára-sol, mesmo que se trate de uma câmara rangefinder ou uma TLL, sem possibilidade de trocar objectivas.

Fica o alerta para os menos experientes: é muito mais barato comprar um pára-sol novo ou usado que comprar outra objectiva.

Pentax K1 mkII, Pentax-M Macro 50mm 1:4

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quinta-feira, 21 de março de 2024

A minorca




Ao fazer esta série sobre as minhas objectivas menores que 50mm por pouco me esquecia desta: 40mm 1:2,8 pancake.

Tenho que admitir que a sua aquisição foi um capricho. Nunca tinha usado uma, nunca tinha visto uma e as referências sobre ela não serão as melhores. Além do mais, aquilo que antecipava ser o seu ângulo de visão não me parecia ser atraente.

Mas ter uma objectiva assim pequena e sendo barata como foi... acabei por me decidir.

É engraçada, a objectiva. A visão que me fornece não me convence, como esperava. Os aneis de controlo de abertura e focagem são tão estreitos que me sobram dedos para os usar. Colocada na minha câmara principal, uma Pentax K1 mkII, quase parece não ter objectiva colocada. Mesmo numa Pentax pequena, como a MX, parece faltar qualquer coisa.

Claro que na MX ou na ME super, as câmaras assim equipadas transformam-se em câmaras de bolso, o que pode ser útil ou prático. Mas não para mim.

Foi um capricho e tenho-a como algo meio excêntrico, guardada para dias de excentricidade ou como peça de exibição. Aliás, ela é tão excêntrica que um dia, em indo ao mecânico de fotografia por outro motivo mas tendo-a na câmara e esta no ombro, ele a elogiou e acabou por me perguntar se eu não a quereria vender para juntar a outras pouco comuns que possui.

Naturalmente que fiquei com ela, qual estrelinha no céu, como se constata pela fotografia junta.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

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quarta-feira, 20 de março de 2024

Confortos




Muitas são as discussões em torno de qual é a objectiva “normal” ou “standard”. Os argumentos são muitos, da fisiologia à técnica, do subjectivo ao histórico.  Por mim, o que mais importa é o conforto de quem fotografa com o ângulo de visão da objectiva com que está a trabalhar.

Nunca fui muito de grande angular. Por vezes recorria a uma, fixa ou zoom, só porque era a que se mais adaptava ao que estava a fazer. Mas sempre ouvi muitos e conceituados fotógrafos a defenderem as virtuosidades da 35mm. Principalmente os que fazem reportagem. Usando mesmo aquele argumento “Se a fotografia não está boa é porque não estavas suficientemente perto”. Rebatível, mas entendo-o.

Um dia vejo-me com esta 35mm nas mãos. Não foi uma escolha, já que acompanhava uma câmara que eu queria. Mas, já que a tenho vamos usar aquilo que tantos e tão bons defendem. Foi uma surpresa!

De início foi um pouco desconfortável estar com aquela primária na câmara. E só alguma disciplina e preguiça me impedia de a mudar. Porque, e por uma questão de método, saía de casa já com ela colocada. Aprender outras abordagens implica entrarmos em terrenos que podem não nos ser confortáveis.

Mas, ao fim de algum tempo, percebi que aqueles 63º em Full Frame eram, e são, muito agradáveis de usar. Tão agradáveis que, agora, é esta objectiva que tenho pronta a fotografar ao sair de casa, alternando apenas com a minha já tradicional 90mm.

Há pessoas que se vestem de acordo com a sua disposição nesse dia. Cores, formalidade, conforto... eu escolho uma objectiva.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

By me

terça-feira, 19 de março de 2024

Exercícios




Fiz este exercício diversas vezes com diversos companheiros de fotografia:

Definimos um espaço (uma praça ou largo, uma rua, um jardim...) definimos um tempo (uma hora, duas horas) e uma quantidade de fotografias (24, 36, 72). Haveria que cumprir esses requisitos e, mais tarde, compararmos imagens e visões. Era uma forma de nos aperfeiçoarmos, tanto no fazíamos como de conhecer outras abordagens.

Tenho usado este exercício ao longo dos tempos. Muitas vezes sozinho, como forma de me aprimorar, muitas vezes em contexto formativo, com adolescentes ou adultos. Tem ele como objectivo o levar a ver bem para além do primeiro olhar, o tirar partido da luz que existe procurando outros eixos e o explorar perspectivas não tão óbvias ou imediatas mas que, de algum modo, contam aquilo que queremos contar. E, em ambiente formativo, o disciplinar o olhar e o acto fotográfico, coisa que com o facilitismo do digital se vai perdendo um pouco.

Recordo uma ocasião em que o fiz com um amigo. Enquanto eu usava a 75-150mm, ele usava a 24mm. Nada de imposto, apenas opção pessoal. As nossas preferidas.

Abordagens bem distintas ao espaço onde estávamos. Nem melhores nem piores, apenas diferentes.

Há uns tempos encontrei esta 24mm. Nunca fui muito de grande angular, mas lembrei-me deste episódio e decidi também eu tentar. Foi uma surpresa.

Aquilo que não me satisfazia na 28mm e que achava demasiado numa 14mm estava na conta certa com esta. O ângulo de visão, a perspectiva a que me leva para colocar o assunto em evidência, a “imposição” de primeiros planos quando o assunto fica distante... fiquei fã desta objectiva e hoje faz parte do conjunto mínimo com que saio de casa. Mesmo não sendo a minha objectiva predileta.

 

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5

By me

segunda-feira, 18 de março de 2024

Velharias




E a pergunta para queijinho é: Reconhecem o que está na imagem?

Alguns, talvez muitos, dirão que se trata da tampa de um cesto de vime com qualquer coisa por cima.

A esses eu direi que têm algum tipo de raízes à vida no campo ou ao artesanato. Que isto, enquanto objecto de uso quotidiano, principalmente nas cidades, é algo de raro. Eventualmente a acompanhar os ranchos folclóricos.

Quanto ao que está em cima, poucos saberão. Só os mais antigos e que faziam viagens de comboio. Das longas.

Trata-se de um cinzeiro de uma carruagem da CP, que estava fixado nas paredes, junto aos bancos sob as janelas. Ou ao longo do corredor, também sob as janelas, em havendo compartimentos. Coisa que faz tempo que não está em uso, como se calcula, em virtude das leis sobre o uso de tabaco nos tansportes públicos.

Juro que não fui eu que o palmei. Teria que ser há bastantes anos. Nem tem aspecto de ter sido arrancado de onde estava. Suspeito que terá sido retirado quando vieram ordens para isso. Terão sido muitas centenas. E que talvez tenham sido vendidas a peso, sendo que algumas terão escapado à fundição. Como esta, ainda com restos de cinza seca no seu interior.

À minha mão veio parar, a troco de quase nada, numa feira de velharias e trastes velhos.

E por cá irá ficar, como memória viva dos tempos em que se fumava nos comboios, se jogava às cartas e em que galinhas, coelhos ou verduras faziam parte da bagagem. Nestes mesmos cestos.

Consigo imaginar um avental aos quadrados e um lenço numa cabeça.

By me

Duas




E se me perguntarem porque é que tenho duas objectivas quase absolutamente iguais, a resposta é simples: só comprei uma. A outra herdei-a.

A que comprei há pouco mais de 45 anos é a da esquerda e está montada na câmara onde a usei nos meus inícios; a que herdei é a da direita, deve ter sido comprada mais ou menos na mesma época, e está montada na câmara que meu pai usou.

Admito que não é uma objectiva que me agrade. Em Ful Frame, pelo menos.

Não tem um ângulo suficientemente aberto para se usar com uma perspectiva bem próxima e “agressiva” mas não tem um ângulo suficientemente fechado para ser usado no dia-a-dia como objectiva de base.

Claro que para interiores em momentos de festas familiares, eventos ou equivalentes, cumpre a sua função e, por isso, teve boa saída entre os utilizadores. Mas nunca me convenceu.

Mas com a 28mm tive uma vivência interessante, talvez não muito fácil de acontecer nos dias que correm. Creio já a ter contado por aqui:

Num outro grupo Pentax, noutra plataforma, alguém sugeriu que a sua objectiva 28mm circulasse mundo, de mão em mão, e que os seus utilizadores partilhassem o que com ela fizessem. Chamou-se ela “traveling 28” e, ao que recordo, correu os cinco continentes, tendo regressado ao seu proprietário no final do seu périplo.

Foi uma experiência interessante, tanto do ponto de vista fotográfico como humano. Ajudou, sem dúvida, que todos nós tivéssemos uma igual ou equivalente. E não posso garantir a 100% pelos demais, mas aguardei a sua chegada para fazer algumas imagens com ela e não com a minha.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptal2 90mm 1:2,5

By me

domingo, 17 de março de 2024

Extremos




Esta objectiva foi um ponto de viragem para mim: Uma Samyang 14mm 1:3,1.
Sabemos que cada fotógrafo tem um tipo de objectiva preferido. Perto da 50mm, meia teleobjectiva, grande angular... cada um tem a sua própria abordagem ao mundo que o circunda.
Durante muitos anos a 90mm foi a minha preferida. Por vezes bem acima, muito raramente abaixo.
Esta preferência prende-se, parece-me, com dois factores: personalidade e deformação profissional.
A minha carreira foi a de operador de câmara de televisão e controlo de imagem de tv. Em estúdio maioritariamente. E esta actividade, ainda que tenha semelhanças com fotografia, tem algumas diferenças notórias.
Se, por um lado, é um trabalho de equipa, entre os diversos operadores e sob a orientação de um director ou realizador, por outro implica uma distância ao assunto controlada.
O facto de serem várias câmaras em simultâneo implica que não nos podemos aproximar demasiado ou perturbamos o trabalho das restantes. Por outro, a luz existente, pré desenhada e dificilmente ajustada durante os programas, define eixos e distâncias de trabalho que não podem ser ignorados. Por outro ainda, o tipo de perspectiva apresentada ao público tem que ser, salvo algumas excepções, tranquilo. Imagens com perspectivas muito próximas não o são.
Assim e durante anos, bastantes, a minha visão com um sistema de captação de imagem foi sendo formatada para uma escala e perspectiva a alguma distância. A 90mm ou maior, em Full Frame, corresponde a isso.
Mesmo que em fotografia eu não estivesse limitado ao acima dito, de algum modo a grande angular nunca me permitiu ter uma abordagem visual que me satisfizesse. 
Claro que muitas foram as situações em que a usei. Quer fosse pela proximidade ao assunto que não podia controlar, quer fosse pelo tamanho do assunto, que não “cabia” de outro modo, quer fosse por ser essa a perspectiva desejada.
Acontece que um dia, não há muitos anos, vi um anúncio desta objectiva on-line. Nova. A um preço barato e que podia pagar. Disse então, de mim para mim:
“Tu sabes trabalhar com estes ângulos, apenas não estás habituado a usá-los. Vai praticar!”
Continua a não ser um ângulo de visão que me seja confortável. Quando a coloco na câmara levo mais tempo, e nem sempre consigo, fazer um enquadramento que me agrade ou a encontrar a perspectiva “certa” para o que quero contar. E continuo a aprender a trabalhar com ela.
De quando em vez saio de casa com ela colocada na câmara. Com a firme decisão de que nesse dia essa ir ser essa a minha visão. Claro que comigo estão mais uma ou duas que sei que me satisfazem e que, em caso de extrema necessidade, as posso usar. Mas tento formatar a minha mente e actos para este extremo ângulo de visão e correspondente perspectiva. E eu gosto de desafios.

Pentax K1 mkII, Tamron SP Adaptall2 90mm 1:2,5
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